domingo, 21 de agosto de 2011

TELOMERIZAÇÃO: AS NOVAS POSSIBILIDADES






No princípio de Maio de 2011, o Prof. João Gonçalves, da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, foi notícia porque ganhou um financiamento da Fundação Bill e Melinda Gates para investigar uma nova forma de combater a SIDA.

A técnica proposta pelo Prof. Gonçalves é relativamente complexa, mas o que nos interessa é que inclui uma metodologia para o transporte de grandes moléculas para o interior das células. Ora, transportar macromoléculas como a telomerase para o núcleo celular é justamente o que queremos. Esta tecnologia é absolutamente crucial para o nosso futuro.

Pouco depois de a notícia sair contactei o Professor, que inicialmente teve uma reacção muito positiva. Contudo, essa primeira impressão não se desenvolveu, e eu continuei as minhas pesquisas.

E eis o que descobri.

Já se produz comercialmente telomerase humana (e de roedores). Para ver uma selecção de empresas a trabalhar neste campo vá à Biocompare, onde pode ver que já há diversas companhias a produzir telomerase (sob diversas designações, desde “Human Telomerase” até “TERT”). É uma área que parece estar a despertar grande interesse, e por esse lado não creio que houvesse grandes dificuldades.

E quanto ao transporte da telomerase para o sítio onde ela deverá actuar?

Quando soube dos empreendimentos do Prof. João Gonçalves, pensava que a técnica das nanopartículas (que é a metodologia que é necessário dominar para se fazerem chegar macromoléculas ao interior das células) era uma técnica de ponta, praticada apenas nos laboratórios mais sofisticados. Estava enganado.

Umas semanas depois descobri que em Espanha uma muito pequena empresa situada numa pequena cidade de Navarra, a BioNanoPlus, já oferece tecnologia capaz de transportar proteínas (ou seja, a telomerase) para o interior das células. Se uma empresa tão pequena com a BioNanoPlus, numa região remota de Espanha, já propõe esta tecnologia, de que é que estamos à espera?

De ficar velhos?

Além disso, há um último “pormenor”, que é o seguinte: a telomerase é uma substância natural, cuja produção e comercialização está dependente de um ambiente regulatório muito menos exigente que moléculas artificiais. Estas últimas necessitam de extensos teste de toxicologia e eficácia, que não se aplicam às moléculas naturais. O que quer dizer que está tudo a nosso favor.

No meu livro 2009-2049: Quarenta Anos de Montanha Russa venda na Amazon, como e-book), faço no capítulo 2 algumas propostas de experiências que nos poderiam fazer avançar consideravelmente no nosso conhecimento. As principais têm a ver com um peixe que vive apenas 13 semanas, o Nothobranchius furzeri. Este peixe, que obviamente é um vertebrado como o Homem e por isso tem a mesma sequência de nucleótidos nos telómeros (os
relógios biológicos das células) seria um veículo ideal para se tentarem obter extensões significativas do tempo de vida. Imaginem se conseguíssemos que o peixe que vive apenas treze semanas vivesse dois anos… ou vinte.

Além disso, há uma outra experiência muito mais simples, e com resultados quase imediatos: dar telomerase a ratos envelhecidos para ver se se consegue o mesmo resultado que o que Ronald DePinho obteve em Harvard (um rejuvenescimento radical dos animais).

O envelhecimento é, como qualquer médico pode confirmar, um processo de decadência que pode ser extremamente violento. Abrem-se-nos agora grandes possibilidades. A não ser que estejamos à espera de ficar velhos...

Sem comentários: